Quatros meses atrás, analisei dados de uma rodada de pesquisa da Quaest sobre a avaliação do Governo Lula e a percepção dos brasileiros sobre a economia. Naquele momento, dezembro de 2024, havia estabilidade e uma distribuição equilibrada. O Governo tinha 33% de avaliação positiva; 31% negativa e 34% regular. Mas, na época, chamei atenção para o descolamento entre esses dados e a maneira pela qual os brasileiros percebiam os preços dos alimentos, combustíveis, energia elétrica e o seu poder de compra.
Havia uma avaliação fortemente negativa para esses preços que não estava na mesma intensidade da percepção sobre a economia como um todo. Cheguei a escrever, por exemplo, que, se “considerarmos apenas a conta de luz como exercício, poderíamos dizer que há espaço para a percepção negativa da economia subir”. Essa mesma constatação era visível na percepção dos demais indicadores. Foi mais ou menos isso que aconteceu. Os brasileiros avaliam mais negativamente a economia hoje do que me dezembro.
Bem, aqui chegamos a um ponto que também especulei na época. Se economia explica em parte a avaliação do Governo, era provável também que havia margem para o aumento da avaliação negativa do Governo. O comportamento dos dados na nova rodada da Quaest desta semana corrobora essa tendência. A avaliação negativa do Governo passou de 31% em dezembro para 37% em janeiro e agora 41%. Uma variação de dez pontos percentuais. No mesmo período, a avaliação negativa da economia variou de 40% para 39% em janeiro, e agora saltou para 56%. Aumento de 17 pontos percentuais. Um crescimento bastante acentuado.

A deterioração da percepção da economia aparecia de outra forma nos dados. As curvas de percepção da economia nos últimos 12 meses e a da expectativa da economia para os próximos 12 meses apresentavam uma tendência de aproximação, com a expectativa caindo e a avaliação passada subindo. Quatro meses depois, esse tendência se confirmou. Atualizei o gráfico. Nele é possível verificar que a avaliação negativa da economia subiu, atingindo 56% e ultrapassou a expectativa da economia. (Observação: não há dado para a percepção da economia para janeiro/25. Portanto, foi produzida a média dos dados de dezembro e março).

Em resumo. Esse cenário piora e muito o trabalho do Governo para reverter a níveis 2023 a sua avaliação positiva. Não é impossível, mas essa tarefa terá que passar por um trabalho forte na economia, sobretudo para reduzir a percepção negativa da população, com queda dos preços de alimentos, gasolina e energia, além de tentar reverter as expectativas que estão se deteriorando.