A pesquisa Ipsos-Ipec divulgada na última sexta-feira (14/03) confirmou um cenário de desaprovação do presidente Lula, que já havia sido indicado por outros institutos em fevereiro. Pelo Ipsos-Ipec, a desaprovação do presidente chegou a 55%, contra 40% de aprovação. A avaliação negativa de Lula cresceu nove pontos percentuais desde dezembro, segundo o instituto.
Embora os dados sejam preocupantes para o governo, um levantamento sobre a avaliação de 22 lideranças mundiais mostra que a desaprovação de presidentes e primeiros-ministros é, neste momento, a regra, e não a exceção. Apenas 1/3 das lideranças, isto é, seis casos, têm hoje percentuais de aprovação maiores que a desaprovação (sem considerar as margens de erro).
O destaque da aprovação é o primeiro ministro da Índia, Narendra Modi, que lidera a lista. Narendra foi reeleito ano passado e é aprovado por 77% da população acima de 18 anos. Em segundo lugar vem a presidente do México, Claudia Sheinbaum, também eleita em 2024. Sheinbaum registra 69% de aprovação, seguida por Javier Milei, da Argentina, com 63%.
Entre as 22 noções pesquisadas, a pior situação é de Petr Fiala, primeiro-ministro da República Tcheca, que assumiu o cargo em 2021. A segunda pior situação é de Emmanuel Macron, reeleito em 2022 e presidente da França desde 2017.

Quando analisamos a aprovação das lideranças e a média global, vemos que nove deles apresentam percentuais acima da média de 39%, enquanto outros 12 abaixo desse percentual. Dick Schoof, da Holanda, registra o mesmo percentual da média global. No ranking da aprovação, o presidente Lula aparece em 14ª posição, com seis pontos percentuais abaixo da média.

Já a desaprovação média das 22 lideranças é de 52%. Apenas nove estão abaixo desse percentual. O presidente brasileiro aparece na sexta posição entre os líderes com os maiores percentuais de desaprovação. Lula tem nove pontos acima da média global. É importante considerar que os 61% de desaprovação atribuídos a Lula na pesquisa da Morning Consult, dos Estados Unidos, diferem dos percentuais identificados pela Ipso-Ipec, DataFolha e Quaest muito provavelmente por razões metodológicas. A Morning utiliza questionários online, enquanto os institutos brasileiros realizam entrevistas presenciais.

Quais as razões da impopularidade?
Na avaliação de analistas internacionais, a impopularidade dos líderes mundiais, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron, o chanceler alemão Olaf Scholz e o presidente sul-coreano Yoon Suk Yeol, pode ser atribuída a quatro questões: inflação, imigração, desigualdade e incumbência. Essas questões levaram a índices de desaprovação acima de 50% em muitas democracias desenvolvidas, incluindo Alemanha, França, Japão e Reino Unido.
Embora o Brasil não tenha problemas diretos com a questão da imigração, três fatores (inflação, desigualdade e incumbência) ajudam, a meu ver, a explicar a desaprovação do presidente Lula. Desde o fim do ano passado, o Brasil enfrenta um repique de inflação, que tem afetado, principalmente, a cesta de alimentos. Adiciona-se a isso, a fadiga do terceiro mandato do presidente, que limita a sua capacidade de empolgar parte expressiva do eleitorado.
Inflação: Para os analistas, o aumento dos preços tem irritado boa parte dos eleitores à medida que o poder de compra diminui. Os aumentos das taxas de juros dos bancos centrais, visando combater a inflação, por sua vez, tornaram os empréstimos e hipotecas mais caros, aumentando a frustração da população.
Imigração: A imigração, especialmente a imigração ilegal, se tornou uma questão controversa. Muitos acham que ela sobrecarrega recursos, empregos e cultura, levando alguns a apoiar candidatos de extrema-direita que defendem controles mais rígidos.
Desigualdade: Segundo os analistas, o aumento da desigualdade de riqueza alimentou a desconfiança nas elites. Muitos acreditam que os ricos ganharam desproporcionalmente, aprofundando a frustração com os líderes políticos vistos como beneficiados por essa disparidade.
Incumbência: Líderes de longo prazo enfrentam aprovação decrescente devido à fadiga do eleitor, um fenômeno conhecido como “custo de governar”. Esse padrão enfraquece o apoio a líderes incapazes de resolver questões-chave.