Muitos analistas especularam os possíveis efeitos da eleição deste ano na disputa de 2026. É um exercício esperado, mas será que tem validade? Para responder a essa questão, fiz alguns testes entre as eleições de 2020 e 2022. A ideia foi entender qual seria a relação entre uma eleição municipal e uma eleição nacional. A primeira coisa que é possível dizer é que o voto para prefeito não tem associação direta com voto para presidente da República. Em todos todos os testes que fiz, com a votação de candidatos a prefeito pelo MDB, PSD, PL, PP e PT em 2020 com a votação para Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro, no segundo turno de 2022, não apresentaram associação consistente.
Isso quer dizer o seguinte. Municípios que votaram maciçamente em candidatos a prefeito do PL em 2020 não necessariamente votaram em Bolsonaro em 2022. Isso vale também para o caso de Lula. Dito isto, há indicações de algumas associações. Para ser um pouco mais preciso, o gráfico de dispersão com o resultado do R², ou seja, o coeficiente de determinação, indica um valor de 12% para a relação votação em candidatos do PT em 2020 e a votação em Lula em 2022. A votação para prefeito foi capaz de explicar muito pouco da votação em Lula. Como os dados são de 2º turno, a relação com Bolsonaro, por óbvio, foi também 12%, porém, com reta negativa.
Mas será que isso diz tudo a relação entre uma eleição municipal e uma eleição nacional? O segundo teste procurou medir a associação da votação para prefeito daqueles mesmos partidos, mas agora relacionando à votação para deputado estadual em 2022. Como a literatura já havia apontado, existe associação entre voto para prefeito e legislativos. Contudo, diferentemente dos demais estudos que utilizaram séries temporais maiores e metodologia mais robusta, a associação que identifiquei não foi expressiva, nem pode ser generalizada para todos os partidos.
O caso do PT é o único que alcança percentual que precisamos considerar. Apesar de um R² baixo (25%) para esse tipo de teste, é um percentual elevado comparado aos demais partidos. Com isso, podemos dizer que a votação para os prefeitos do PT em 2020 foi capaz de explicar até 25% da votação para Lula nas cidades em 2022. Vamos lembrar que estamos testando a relação com apenas uma variável (voto prefeito). Há outros fatores que também influenciam a votação para presidente.
È importante nesse teste observar os resultados obtidos para os demais partidos. Por economia de espaço, apresento apenas o gráfico de dispersão com a votação dos prefeitos do PL e a votação dos candidatos a deputado estadual também pelo PL. O teste indicou que não há associação. Ou seja, não é possível explicar, ainda que parcialmente, o comportamento agregado da votação para os prefeitos do PL e a votação agregada nos deputado do PL. MDB, PP e PSD apresentam R² melhores, mas nada superior a 11%.
No terceiro teste, isto é, a relação entre votação para prefeito em 2020 e deputado federal em 2022, indicou uma associação ainda maior para o caso do PT. A votação para os prefeitos do PT nos municípios pode explicar até 32% da votação dos deputados federais da legenda. Novamente, precisamos olhar esse dado com algumas ponderações. É um percentual baixo para esse tipo de teste, mas elevado quando comparado às demais legendas, cujos resultados não passaram dos 14% para o PL, MBD, PSD e PP. Mais uma vez, ressalto que utilizei apenas duas eleições nos testes e um método de análise relativamente simples para medir a associação, daí, portanto, a impossibilidade de comparar com estudos mais robustos da área.
Esses testes sugerem então que a eleição de 2024 diz algo sobre as eleições para os legislativos em 2026 do que o voto para presidente. Mas isso é tudo que podemos falar? Não.
Conquistar votos, prefeituras e cadeiras nas câmaras municipais ajuda um partido a se apresentar com estrutura numa disputa nacional, ampliando o seu capital político para negociar apoios. Uma boa estrutura de campanha significa gente disposta a trabalhar para uma candidatura em 2026. Mas, como vimos, isso não é garantia de votos para presidente. Como vimos, os testes sugerem que, no agregado, os eleitores consideram uma série de outros fatores para decidir o voto em presidente. Portanto, precisamos ter cautela com as inferências feitas a partir de 2024. No município, o eleitor compara candidatos e o contexto local, e isso não estará, necessariamente, associado ao cardápio de candidatos a presidente e ao contexto de 2026. É outra dinâmica. Por outro lado, podemos dizer que as conquistas de 2024 podem contribuir para a votação de deputados estaduais e federais, mas isso não é linear, nem vale para todos os partidos e na mesma magnitude.