As eleições deste ano apresentaram taxas de abstenções semelhantes à disputa de 2020, ano da Pandemia. Para tentar entender o que aconteceu, elaboramos algumas análises sobre 2024 controlando, em vários casos, por gênero, porque as mulheres registraram abstenções menores que os homens este ano.
Primeiro alguns dados gerais. O mapa abaixo mostra a distribuição das taxas de abstenções no primeiro turno nos municípios. Veja que os municípios do Nordeste e do Sul tendem a apresentar taxas menos. Há uma concentração de taxas maiores nos municípios do Centro-Oeste, região do agronegócio.
O gráfico com a distribuição das taxas de abstenção por região demonstra que a situação mais crítica, de fato, no Centro-Oeste, seguido do Sudeste. Nessas duas regiões, a mediana da abstenção foi de 18%. As demais regiões, a mediana variou de 14% a 15%. Mas veja que há muita dispersão nos grupos, indicando particularidades nesses municípios que mereceriam análise mais específicas.
Outro dado agregado importante de observarmos. A abstenção tende a ser maior quanto maior o município. Intuitivamente, podemos dizer que as campanhas em cidades pequenas tendem a mobilizar mais, talvez pela proximidade entre eleitores e candidatos. Nesse grupo, a abstenção foi de 15%, já nas grandes cidades chegou a 28%. Inversamente, é possível afirmar que as campanhas enfrentam um desafio maior de mobilização nos grandes centros, onde a descrença no voto parece mais acentuada.
Agora vamos à análise por gênero. A taxa de abstenção das mulheres na eleição de 2024 ficou em 21%, enquanto a dos homens, 23%. Ou seja, no agregado a diferença não é tão significativa, mas ela esconde algumas nuances. Em duas eleições municipais seguidas (2012 e 2016), as mulheres apresentaram taxas levemente menores daquelas registradas entre os homens. Na eleição realizada durante a Pandemia (2020), as taxas de abstenção foi idêntica para os dois grupos. A disputa de 2024 foi a primeira vez, nas últimas quatro eleições, que as mulheres estiveram mais mobilizadas para votar. Enquanto a taxa de abstenção entre os homens permaneceu em 23%, repetindo o dado de 2020, as mulheres registraram 21%. Este é o ponto que nos interessa olhar com mais atenção.
O gráfico da pirâmide etária mostra que o número de abstenções (valores absolutos) é maior na faixa que vai dos 21 aos 49 anos, onde se concentra a base do eleitorado. Mas na faixa dos 21 aos 34 anos, os homens apresentaram maior número de abstenções no comparativo com as mulheres. Mas se olharmos nos extremos com mais atenção veremos que, entre os mais jovens (17 a 20 anos), por exemplo, os homens também se abstiveram mais que as mulheres. Na outra ponta, ou seja, entre os mais velhos (acima de 60 anos), as mulheres se abstiveram mais do que os homens. Aqui há um fator sociodemográfico que afeta os dados absolutos. A expectativa de vida das mulheres é maior (79 anos) do que a dos homens (72 anos). Em outras palavras, há mais eleitoras que eleitores entre os brasileiros acima de 60 anos, e isso impacta os valores absolutos da abstenção.
No agregado, a abstenção tende a ser menor quanto maior a escolaridade. Mas veja que a abstenção das mulheres é maior ou igual a dos homens nos grupos com baixa escolaridade. Isso muda a partir do Fundamental Incompleto, quando os homens registram abstenções sempre maiores que as mulheres.
No quesito cor/raça, a taxa de abstenção dos homens é sempre maior que o registrado entre as mulheres em todos grupos. A maior diferença em pontos percentuais é entre os pretos. As mulheres pretas comparecem muito mais que os homens pretos.
Por fim, calculamos a diferença em pontos percentuais da abstenção entre homens e mulheres por estado. A maior diferença ocorreu nos estado de Roraima, Maranhão e Amapá, onde os homens registraram abstenções até 5 pontos percentuais maiores que as mulheres. Novamente, questões locais precisariam ser observadas para entendermos essas diferenças. No outro extremo, as menores diferenças nas taxas entre homens e mulheres ocorreram nos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Santa Catarina, onde os eleitores estiveram mais mobilizados a comparecer e votar.