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Debates da Band no Rio e em SP geraram quase 30 milhões de engajamentos nas redes
Há anos os debates eleitorais na televisão se consolidaram como eventos importantes de campanha no Brasil. Embora a longa duração e a rigidez das regras sejam pontos críticos, esses acontecimentos são relevantes porque são momentos em que os eleitores podem ver os candidatos frente a frente, com perguntas difíceis e sem os recursos de edição da propaganda política. Tudo acontece ao vivo, o que implica em mais alto risco para os candidatos. Apesar disso, os competidores com poucas chances eleitorais podem usar os debates para incluir temas e agendas esquecidas pelas cobertura jornalística, bem como buscar maior visibilidade diante de adversários que lideram as pesquisas de opinião.
O atual contexto da comunicação digital trouxe outros elementos para os debates. A ascensão das redes sociais transformou significativamente a dinâmica desses eventos. Candidatos procuram incluir não apenas temas, mas performances com alto potencial de circular no ambiente digital. Os eleitores, por sua vez, não são mais uma audiência passiva. O que acontece durante o debate é quase que simultaneamente tema no ambiente digital, ampliando a visibilidade do evento e atraindo a atenção de outros eleitores. O que temos, portanto, é um tipo de evento de campanha com força para estimular a participação dos eleitores e estes, por sua vez, fazem parte do processo de produção e direcionamento dos fluxos de opinião nas redes.
No INCT ReDem analisamos o comportamento das redes durante os debates da TV Bandeirantes para a disputa de prefeito nas cidades de São Paulo e no Rio de Janeiro. Os debates ocorrem simultaneamente no dia 08/08, com início às 22h30. O objetivo da análise foi verificar a hipótese de associação entre o ocorrência dos debates e a participação e a conversação online entre os eleitores. Para isso, utilizamos os dados do Instituto Informa. O material foi coletado por meio das APIs da rede X, YouTube, Facebook e Instagram. Nessas últimas duas, contudo, foram coletados apenas dados de páginas abertas.
Em SP, terceiro bloco gerou mais publicações
No total, foram 35,9 mil comentários/publicações sobre o debate de São Paulo. A distribuição dos dados ao longo de mais de 2h do evento demonstra que os espectadores não se limitaram a assistir o debate. Ao contrário, eles e engajam ativamente em conversas, comentando, compartilhando e criando memes sobre os candidatos. No gráfico abaixo, temos incremento das interações que somaram mais de 27,6 milhões. O volume de publicações cresceu à medida que o debate avançava.
Quando analisamos o volume de publicações por bloco, notamos que dos 27,6 milhões de engajamentos, cerca de 68%, ou seja, 18,7 milhões de comentários e compartilhamentos foram postados durante o terceiro bloco, quando os candidatos fizeram uma última rodada de perguntas e apresentaram as considerações finais. Outros 2,5 milhões ocorreram no período pós-debate, e esse número possivelmente foi maior, já que finalizamos a coleta dos dados às 0h38 já da madrugada do dia 09/08.
Os dados do monitoramento do ambiente digital durante o debate da Band para a prefeitura de São Paulo demonstram o ponto que temos defendido. Os eleitores já não esperam o dia seguinte para ver na imprensa análises e considerações sobre os desempenhos dos competidores. As redes permitem uma construção simultânea de impressões e avaliações sobre os candidatos, ampliando não apenas a visibilidade dos debates, mas também os fluxos de opinião. Para os candidatos, os possíveis prejuízos em caso de um desempenho mal avaliado pela audiência tendem a ser maior.
No Rio, possível ação coordenada
Os dados do Rio somaram 2,9 mil publicações feitas pelos eleitores. É possível notar que há uma concentração no segundo bloco do debate, sugerindo que o evento, assim como em SP, contribuiu para uma ampla repercussão entre os usuários das redes.
No confronto entre os candidatos a prefeito do Rio de Janeiro, identificamos padrões diferentes de comportamento no ambiente digital durante o debate de SP. Nesse segundo gráfico, temos 1,2 milhão de engajamentos hora a hora. O comportamento das curvas, especialmente entre o início do debate e o fim do segundo bloco, sugere uma ação coordenada nas redes. A linha de engajamento sobe e mantém um padrão pouco comum para o digital, com números incrementando de forma muito sincronizada. Essa mesma tendência pode ser observada após o debate, com mais duas curvas ampliando o engajamento de forma muito padronizada.
Finalmente, quando agrupamos os engajamentos por bloco do debate, notamos que o maior volume ocorreu após a realização do evento. Embora tenhamos indícios de ações coordenadas entre os eleitores, sem saber se foram promovidas por grupos humanos ou de forma automatizada, esses dados indicam como os debates já são pensados como eventos estratégicos. Os eleitores e os candidatos sabem que esses acontecimentos não são estão mais restritos à TV e sua baixa audiência já tarde da noite. São eventos que produzem cenas para fora, e elas transitam imediatamente para o digital, alcançando muitas vezes aqueles que não viram o debate e que dependem de outras pessoas para identificar como foram os desempenhos.
Autor da notícia:
Fábio Vasconcellos
Bolsista de Pós-Doutorado