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A distribuição das forças políticas em 2024
Com a conclusão do segundo turno do processo eleitoral de 2024, temos agora um quadro mais completo da distribuição das forças políticas pelo país. O acompanhamento da conjuntura política e eleitoral que fazemos no grupo de pesquisa Representação e Legitimidade Democrática (INCT/Redem) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) identificou alguns pontos que merecem ser observados.
O primeiro deles é a manutenção do total de prefeituras sob a administração de partidos de direita e centro-direita, característica já bastante conhecida por analistas e cientistas políticos. Nesta eleição, a direita conquistou mais de 4,7 mil prefeituras, contra pouco mais de 746 da esquerda (nos dados do TSE, ainda faltam cerca de 50 resultados que estão sob judice e não foram consideradas nesta análise).
Quando comparado com 2020, o crescimento do campo da direita (direita, extrema-direita e centro-direita) foi de cerca de dois pontos percentuais. Passou de pouco mais de 84,5% para 86,7% no número de prefeituras. Como já era fortemente predominante, era esperado que a direita não apresentasse um crescimento expressivo. A novidade, talvez, fosse o registro de alguma inflexão negativa, com perda de prefeituras, movimento que não aconteceu no cômputo geral.
Direita e centro-direita, é importante lembrar, são dois campos ideológicos que reúnem partidos do chamado “Centrão”, como MDB, PSD, PP, União Brasil, entre outros. São legendas tradicionalmente conhecidas por serem partidos de máquina, aqueles que operam muito mais no sentido de conquistar poder e espaços políticos do que em um projeto claro de orientação ideológica. De todo modo, a Ciência Política brasileira classifica esses partidos como de direita, em razão de uma série de posicionamentos e escolhas das suas lideranças.
O contexto que ajuda a explicar de que direita estamos falando é importante de ser observado porque uma leitura apressada do mapa das prefeituras nestas eleições, segundo a posição ideológica dos partidos, pode sinalizar intuitivamente um possível prognóstico da disputa Presidencial de 2026. Não é possível fazer essa associação. O Brasil já elegeu presidentes de esquerda, inclusive em 2022, tendo uma distribuição das forças locais mais ou menos com essa configuração. A relação das forças políticas municipais ocorre mais para as disputas do legislativo, como a eleição de deputados estaduais e federais. Em outras palavras, partidos com grande número de prefeituras tendem a eleger mais deputados, mesmo assim, essa relação não é direta, nem vale para todos os partidos. Para a disputa Presidencial, o que esse mapa sinaliza é com quais forças políticas os possíveis candidatos terão que negociar apoio, e até mesmo uma possível formação de chapa, afinal, muitos prefeitos e vereadores distribuídos pelo Brasil representam estrutura e capilaridade eleitoral, e isso importa.
O número de prefeituras exclusivamente deve ser visto como indicador parcial da distribuição das forças políticas, porque esse dado omite o peso dos municípios. Neste segundo gráfico, consideramos o total de prefeituras, considerando a categoria ideológica dos partidos e o tamanho do eleitorado local. Aqui temos alguns movimentos que precisam ser observados. As prefeituras conquistadas pela extrema-direita, que reúnem principalmente o PL e o NOVO, reúnem mais que o dobraram de eleitores que esse mesmo grupo administrava quatro anos atrás.
Outro movimento importante. A centro-esquerda (PDT, PSB, PV e Rede) perdeu prefeituras entre 2020 e 2024 e vai administrar cidades com um contingente menor de eleitores. Esse movimento também ocorreu entre os partidos de centro-direita, que elegeram menos prefeitos (sem considerar os 50 casos que ainda estão sub judice). Na Esquerda (PT e PC do B), houve um pequeno crescimento no número de prefeituras, passando de 231 para 271. O número de eleitores sob o comando desse campo cresceu de 5 milhões para 7,8 milhões. Em resumo, tal qual já registrado em anos anteriores, os municípios brasileiros serão administrados majoritariamente por partidos de direita, sobretudo da direita que forma o Centrão, e que tem como característica uma grande capacidade de se alinhar com os mais variados parceiros políticos. O crescimento do campo da direita registrado este ano foi, contudo, mais lateral do que expressivo. A extrema-direita, por sua vez, avança, com mais prefeituras, tornando-se assim um campo político que se organiza e amplia a sua capilaridade nacional.
Autor da notícia:
Fábio Vasconcellos
Bolsista de Pós-Doutorado