Taxa de Hegemonia Política nas câmaras

A grande atenção da imprensa para a eleição de prefeitos acaba muitas vezes limitando o nosso olhar para a distribuição de forças políticas nas câmaras municipais. Em um cenário em que a direita e a centro-direita ampliaram os seus espaços com mais prefeituras, o que podemos dizer dos legislativos municipais? Para tentar responder a essa questão, elaborei o que chamo de “Taxa de Hegemonia Política” para entender a distribuição de poder nas câmaras a partir de 2025.

A taxa é relativamente simples. Ela consiste na proporção de vereadores eleitos por partidos, considerando a posição da legenda no espectro ideológico. A medida varia de 0 (hegemonia da esquerda) a 1 (hegemonia da direita). Dessa forma, taxas próximas de 0,5 indicam legislativos locais mais equilibrados entre os dois campos ideológicos.

O que este mapa mostra é o que já tínhamos observado. A expansão de prefeituras do campo da direita em 2024 repercutiu também nas câmaras municipais. Cada cidade no mapa apresenta a cor da taxa de hegemonia política no legislativo. Se você clicar na imagem, poderá interagir com o mapa, pesquisando a Taxa de Hegemonia por cada município do Brasil.

Quando comparamos a taxa por região, temos a seguinte distribuição. O Centro-Oeste apresenta a maior mediana (1) da Taxa de Hegemonia. Isso significa que, na maioria das câmaras dessa região, nenhum vereador de partido de esquerda foi eleito. Em segundo lugar está o Sudeste, com taxa mediana de 0,91 e o Norte, com 0,91. Na sequência vem o Sul, com mediana de 0,89 e, por último, o Nordeste (0,78). Esta última é onde o campo da direita menos elegeu vereadores, mesmo assim, a direita é, na média, majoritária nas câmaras municipais da região.

Em números absolutos, considerando as classes da Taxa de Hegemonia Política, outra forma de olhar esses dados, também podemos verificar a força do campo da direita. Se somarmos as classes acima de 61%, temos que os partidos de direita “dominarão” 4,8 mil câmaras municipais a partir de 2025.

Quando controlamos as classes da taxa pelo total de eleitores nas cidades, vemos que o campo da direita será hegemônica em municípios que somam cerca de 142 milhões de eleitores.

Esses dados espelham o que já era sabido. Partidos do campo da direita (direita, centro-direita e extrema-direita) eram majoritários no Brasil nos executivos locais. A disputa de 2024 confirmou isso e a eleição das câmaras refletiu, como esperado, esse comportamento. Importante observar que o campo da direita é composto por muitos partidos do chamado Centrão que são legendas de direita, mas uma direita de máquina que pode tanto pender tanto para a esquerda como para a direita, a depender dos ganhos imediatos nas discussões locais. Importante observar ainda que o corte ideológico utilizado nesta análise não leva em consideração aspectos e conjunturas locais que, em muitos casos, podem não refletir a posição ideológica dos partidos. Em outras palavras, características locais influenciam a tomada de decisão dos vereadores, o que muitas vezes não se reflete na posição do seu partido no aspectos ideológicos. Apesar disso, esse dado ajuda dimensionar a força política dos partidos de direita, sua estruturação e distribuição nacional.

Como sempre me perguntam, utilizo como referência de classificação dos partidos o trabalho de Bolognesi, Ribeiro e Codato, meus colegas no pós-doc do INCT UFPR, onde venho desenvolvendo análises de conjuntura.

Autor da notícia:

Fábio Vasconcellos
Bolsista de Pós-Doutorado