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Há chance para um candidato outsider nas eleições presidenciais de 2026?

Escrito por: Roberta Picussa

Investigando se há espaço para um candidato outsider na eleição presidencial de 2026, uma pesquisa qualitativa do INCT ReDem, escrita por Roberta Picussa, analisou a percepção de eleitores por meio de grupos focais. Aos participantes foram apresentados quatro perfis de candidatos fictícios (insider, outsider, amador e rebelde). Os resultados revelaram um eleitorado ambivalente: embora desiludidos com a política e atraídos pela ideia de “algo novo” e por discursos antissistema, os eleitores se mostraram pragmáticos, questionando a credibilidade e a capacidade de governar de candidatos sem experiência política e sem alianças. A pesquisa conclui que, apesar do desejo de renovação, a valorização da experiência e um sentimento de resignação com o sistema político funcionam como um freio importante para a ascensão de um outsider puramente disruptivo à presidência.

Detalhamento da Pesquisa:

O Desafio Investigado: O texto aborda se o cenário de desilusão do eleitorado com a política abre espaço para um candidato outsider e antissistema na eleição presidencial de 2026. Após a onda de 2018 e exemplos recentes como Pablo Marçal, a pesquisa busca ir além dos levantamentos de opinião para entender de forma aprofundada como os eleitores percebem e o que os atrai em diferentes perfis de candidatos de fora da política tradicional.

A Proposta Central: O estudo realizado pelo INCT ReDem utilizou uma metodologia qualitativa, com seis grupos focais envolvendo 60 eleitores paulistas das classes C, D e E. Aos participantes foram apresentados quatro perfis de candidatos fictícios, baseados na tipologia de Miguel Carreras (2012), para explorar suas reações: o “insider” (político tradicional), o “outsider” (antissistema), o “amador” (outsider moderado) e o “rebelde” (político que rompe com o sistema).

Evidências e Argumentos: A pesquisa revelou percepções complexas. O político “insider” foi rejeitado como “clichê”, mas sua experiência foi valorizada por alguns. O “outsider” com discurso antissistema agradou, mas não foi visto como crível, gerando desconfiança sobre sua capacidade de governar sem apoio e experiência. O perfil mais bem aceito foi o “amador”, um novato com discurso moderado, embora alguns suspeitassem que ele seria um “fantoche” de grandes partidos. O “rebelde” foi majoritariamente visto como oportunista. A impressão geral foi que os eleitores, apesar do desejo por “algo novo”, são pragmáticos e demonstram um sentimento de resignação: sabem que um presidente precisa de experiência política e alianças para governar.

Implicações e Contribuições: A principal contribuição da pesquisa é revelar a percepção ambivalente do eleitorado. Existe uma atração pela novidade e pelo discurso de renovação, mas, ao mesmo tempo, um ceticismo pragmático sobre a viabilidade e a capacidade de governo de um candidato sem experiência. A experiência política, tão desvalorizada no discurso, ressurge como um fator crucial na decisão dos eleitores para um cargo como o de presidente. O estudo conclui questionando se uma demonstração concreta de força eleitoral, como no caso de Trump, seria capaz de alterar essa postura pragmática do eleitor brasileiro.

*Foto: UESLEI MARCELINO/17-04-2016 / REUTERS

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Autor

Roberta Picussa – Doutora em Ciência Política pela UFPR, pesquisadora de pós-doutorado no INCT/ReDem. No ReDem, estuda o papel dos políticos outsiders na democracia.
 

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