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Violência e legitimidade democrática: um balanço da literatura sobre o contexto latino-americano

Autores: Gabriela Ribeiro Cardoso e Julian Borba

Realizando um balanço da literatura acadêmica, o artigo de Gabriela Ribeiro Cardoso e Julian Borba investiga como as altas taxas de violência, a vitimização e o medo do crime afetam a legitimidade democrática na América Latina. A análise mostra que a literatura aponta a vitimização e o medo como fenômenos distintos que, de forma geral, reduzem o apoio à democracia e aumentam o apelo a saídas autoritárias e ao populismo penal. O texto sintetiza quatro mecanismos causais que explicam essa relação: a percepção de falha do Estado, a ineficiência do sistema de justiça, as mudanças na participação política e a ascensão do populismo. A principal contribuição do trabalho é organizar o conhecimento sobre o tema, demonstrando que a violência é um fator central e muitas vezes subestimado para entender os desafios das democracias na região.

O Desafio Investigado: O artigo parte da constatação de que a América Latina concentra as mais altas taxas de homicídio do mundo, o que impõe uma série de desafios às democracias da região. O texto aborda como a experiência concreta da violência (vitimização) e o medo do crime podem fomentar retrocessos na legitimidade democrática e criar um terreno fértil para discursos autoritários e o populismo penal.

A Proposta Central: Este artigo se dedica a realizar um balanço aprofundado da literatura acadêmica internacional sobre os temas da vitimização, medo do crime e legitimidade democrática, com foco no contexto latino-americano. O objetivo é organizar e sintetizar os achados de pesquisas que conectam a violência a aspectos políticos e identificar os principais mecanismos causais que explicam essa relação.

Evidências e Argumentos (Achados da Literatura): A revisão da literatura aponta que a vitimização e o medo do crime são compreendidos como fenômenos distintos que podem operar por mecanismos causais diferentes. Estudos mostram que, na América Latina, as vítimas de crime tendem a valorizar menos a democracia e a apoiar mais o autoritarismo e políticas de “mão dura”. O medo do crime também reduz o apoio à democracia. O artigo identifica quatro mecanismos causais principais discutidos na literatura: 1) a percepção de que o Estado falha em seu papel de garantir segurança; 2) a ineficiência e a impunidade percebidas na polícia e no sistema de justiça; 3) alterações na dinâmica da participação política ; e 4) a ascensão do populismo penal, que explora o medo para justificar políticas que podem erodir direitos democráticos.

Implicações e Contribuições: A principal contribuição do artigo é organizar e sistematizar um campo de pesquisa em consolidação, demonstrando a centralidade da violência para entender a legitimidade democrática na América Latina. Ao detalhar os mecanismos causais, o trabalho oferece um quadro analítico claro sobre como a violência afeta as atitudes e comportamentos políticos. Por fim, ao fazer um balanço do que já foi pesquisado, o artigo levanta questões para uma futura agenda de pesquisa sobre o tema na região.

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Autores:

Gabriela Ribeiro Cardoso é Doutora em Sociologia e Ciência Política (área de concentração: Ciência Política) pela Universidade Federal de Santa Catarina, possui mestrado em Sociologia Política, licenciatura e bacharelado em Ciências Sociais pela mesma instituição. É pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Políticas Públicas e Opinião Pública – NIPP. Atualmente desenvolve pesquisas sobre vitimização, medo do crime e legitimidade democrática na América Latina.

Julian Borba é doutor em Ciência Política pela UFRGS. Professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC. Interessado nos temas opinião pública e comportamento político.