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Violence and Democratic Legitimacy in Latin America: Causal Mechanisms and Contextual Effects

Autores: Gabriela Ribeiro Cardoso e Julian Borba

Investigando a relação entre violência e legitimidade democrática na América Latina, o artigo de Gabriela Ribeiro Cardoso e Julian Borba analisa dados do Americas Barometer de 17 países. A pesquisa confirma que a vitimização e o medo do crime reduzem a confiança nas instituições e o apoio à democracia. O principal achado, porém, é contextual: o impacto negativo de ser vítima de um crime é significativamente maior e mais danoso em países que já possuem altas taxas de homicídio. A contribuição central do estudo é mostrar que o nível de violência de um país amplifica os efeitos políticos negativos da vitimização individual, estabelecendo a violência como um fator-chave, e não marginal, para se entender os desafios à democracia na região.

O Desafio Investigado: O artigo parte da constatação de que a América Latina possui as maiores taxas de homicídio do mundo, o que representa uma séria ameaça às suas democracias. O desafio central é entender não apenas se a violência (vitimização e medo do crime) afeta a legitimidade democrática, mas como o contexto de cada país — como o nível geral de violência — modera essa relação.

A Proposta Central: A pesquisa examina a relação entre vitimização, medo do crime e legitimidade democrática (medida como confiança institucional e apoio difuso) em 17 países da América Latina. Utilizando análise multinível com dados do Americas Barometer (2016 e 2018), o estudo testa hipóteses sobre como fatores contextuais, especialmente a taxa de homicídios de um país, influenciam os efeitos da violência na percepção dos cidadãos sobre a democracia.

Evidências e Argumentos: A análise confirma que tanto a vitimização quanto o medo do crime têm impactos negativos diretos na legitimidade democrática. O achado principal, no entanto, vem da análise de interação: o efeito negativo da vitimização na confiança nas instituições é significativamente exacerbado em países com taxas de homicídio mais elevadas. Da mesma forma, a instabilidade política também amplifica o impacto negativo da vitimização. O estudo também destaca o caso do Brasil, que apresentou os menores índices de confiança institucional e apoio difuso entre os países analisados.

Implicações e Contribuições: A principal contribuição do artigo é demonstrar empiricamente que o contexto nacional é crucial. Não é apenas a experiência individual de ser vítima que corrói a confiança na democracia; viver em um país mais violento torna essa experiência politicamente mais danosa. O estudo avança em relação a trabalhos anteriores ao testar e confirmar o papel dos indicadores de violência contextual, reforçando que a violência não deve ser tratada como uma variável marginal, mas central, nos estudos sobre comportamento político na América Latina.

 

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Autores:

Gabriela Ribeiro Cardoso é Doutora em Sociologia e Ciência Política (área de concentração: Ciência Política) pela Universidade Federal de Santa Catarina, possui mestrado em Sociologia Política, licenciatura e bacharelado em Ciências Sociais pela mesma instituição. É pesquisadora do Núcleo Interdisciplinar de Políticas Públicas e Opinião Pública – NIPP. Atualmente desenvolve pesquisas sobre vitimização, medo do crime e legitimidade democrática na América Latina.

Julian Borba é doutor em Ciência Política pela UFRGS. Professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da UFSC. Interessado nos temas opinião pública e comportamento político.