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O bolso da bancada: As disparidades de riqueza esquerda e direita na Câmara dos Deputados

No último post, perguntamos “por que a atual Câmara dos Deputados resiste tanto em aprovar medidas que impactam os mais ricos?”

Para tentar responder essa questão, analisamos dados do patrimônio dos parlamentares eleitos em 2022, tendo como hipótese que a elite política eleita para representar os eleitores é, muitas vezes, também parte de uma elite econômica.

A análise mostrou que a soma dos bens declarados dos parlamentares chegou a R$ 1,5 bilhão, com uma média de R$ 3 milhões por deputado. Esse valor é 62 vezes maior que a média do patrimônio dos brasileiros.

Em tese, portanto, temos uma Câmara distante do perfil médio dos brasileiros. Ou seja, um legislativo muito mais próximo da perspectiva e interesses dos mais ricos.

Agora, aprofundamos a análise, observando a riqueza dos deputados segundo o espectro ideológico e os partidos políticos que elegeram representantes em 2022. Inicialmente, podemos dizer que há uma diferença substantiva entre a distribuição dos bens dos deputados de partidos de esquerda e de direita.

Direita tem o dobro do valor médio do patrimônio da esquerda

Os gráficos de distribuição dos patrimônios mostram alguma sobreposição entre os dois grupos, mas com valores bastante diferentes. Enquanto a mediana do patrimônio dos deputados de esquerda é de R$ 634 mil, seus colegas de direita chegam a R$ 1,245 milhão, quase o dobro (para facilitar a interpretação, o eixo vertical foi transformado para os log dos valores do patrimônio).

Essa diferença não para por aí. Os 25% de deputados de direita com menos patrimônio apresentam uma mediana de R$ 446 mil, valor muito superior à mediana de R$ 237 mil dos deputados de esquerda também com menos patrimônio.

Essa disparidade se amplia quando olhamos para a faixa dos mais ricos. Nesse caso, 25% dos deputados de direita possuem bens acima de R$ 2,568 milhões, um valor significativamente superior aos 25% da esquerda com valores acima de R$ 1,394 milhão. Em outras palavras, os mais ricos da direita têm bens que somam quase o dobro dos bens dos colegas de esquerda mais ricos.

Em essência, a pirâmide patrimonial mostra uma base de riqueza mais elevada para a direita, estendendo-se consistentemente por todos os estratos avaliados.

Esses números sugerem que a representação política na Câmara não apenas difere em ideais, mas também em um poder econômico desigual e, certamente, interesses distintos entre os dois grupos ideológicos quando o assunto é votar medidas que afetam extratos mais ricos da sociedade.

Centro-Esquerda e Centro-Direita apresentam patrimônio equivalente

Para uma avaliação mais granular, o segundo gráfico amplia a distribuição, considerando mais nuances dos dois espectros ideológicos.

Pelos dados, percebe-se que a mediana do patrimônio dos deputados sobe da extrema-esquerda (R$ 73 mil), passando para a esquerda (R$ 614 mil) até atingir R$ 1,1 milhão na centro-esquerda.

Esse último valor não difere muito dos deputados de partidos da centro-direita, cuja mediana é de R$ R$ 1,5 mil. Desse ponto em diante, a mediana apresenta pouca redução. Entre os deputados de partidos da direita, o valor chega a R$ 1 milhão, depois R$ 983 mil, na extrema direita.

Quando comparadas, a extrema-direita apresenta mediana superior ao da extrema-esquerda, assim como os campos da direita e esquerda. Apenas os grupos da centro-esquerda e centro-direita registram valores mais próximos.

PROS, MDB e PSB lideram em patrimônio

A distribuição do patrimônio mediano dos deputados considerando os partidos mostra que os parlamentares do PSC apresentam o maior valor entre os eleitos em 2022. Na sequência, vem os deputados do PROS, MDB e PSB. As duas legendas que organizam hoje o debate nacional, isto é, o PT e PL, aparecem relativamente próximos. Enquanto a mediana do patrimônio dos deputados do PL é de R$ 959 mil, a dos parlamentares do PT, R$ 614 mil, uma diferença de 56% maior para o PL.

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Fábio Vasconcellos

Doutor em Ciência Política pelo IESP (2013) e mestre em Comunicação Social pela UERJ (2008). Professor associado da Faculdade de Comunicação UERJ. Temas de interesse: Comportamento Eleitoral; Comunicação Política; Eleições; Opinião Pública; Analise de Dados.

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