No primeiro post sobre a estratégia de comunicação do deputado federal Nikolas Ferreira, examinamos a distribuição dos vídeos publicados no seu canal do YouTube desde 2018.
Os dados indicaram que o deputado passou a veicular muito mais vídeos a partir de 2023, com o início do governo Lula, em comparação com o período entre 2018 e 2022. A mesma análise mostrou que o engajamento dos vídeos atingiu um pico de 33 milhões em 2023, mas recuou para cerca de 21 milhões no ano seguinte.
Agora, apresentamos uma análise mais qualitativa. Para isso, extraímos os títulos das 434 inserções publicadas até 28 de julho. A jornada de Nikolas para se tornar a principal voz da direita radical nas redes, fora do núcleo familiar dos bolsonaro, apresenta duas fases distintas no conteúdo dos títulos de seus vídeos.
A primeira fase, de 2018 a 2022, pode ser classificada como uma forte busca por “alinhamento ideológico com a base bolsonarista”. Há uma grande variedade no uso de termos associados a questões morais, agenda tipicamente mobilizada por Bolsonaro a partir de 2014, quando passou a se dedicar à pré-campanha presidencial de 2018.
Na segunda fase da estratégia de Nikolas, a partir de 2023 — justamente no período em que ele passou a veicular muito mais vídeos, como indicou a primeira análise —, identificamos um deslocamento discursivo. Nessa fase, o deputado busca afirmar-se no papel de oposicionista e de representante da base bolsonarista, mas amplia o conteúdo de cunho religioso.
2018 – 2022 (alinhamento com a base bolsonarista)
De 2018 a 2022, a estratégia de comunicação de Nikolas caracteriza-se pela construção e consolidação de uma identidade conservadora e combativa. Inicialmente, os títulos dos vídeos focam em definir pautas ideológicas e confrontar abertamente adversários, utilizando uma retórica polarizadora para engajar sua base, especialmente em um contexto pré-eleitoral. O uso de expressões como “Destruindo comunistas – AO VIVAÇO” ilustra o tom direto e confrontador.
A partir de 2019, a estratégia se aprofunda no combate a temas percebidos como “esquerdistas” ou “progressistas”, com forte ênfase na educação e em pautas de costumes. Títulos como “Professor foi flagrado doutrinando em sala!” e “Feminismo: o maior movimento genocida do mundo” revelam o foco em amplificar debates morais e sociais, buscando mobilizar a população em torno de pautas conservadoras.
O ano de 2020 marcou uma intensificação dessa abordagem. Nikolas aproveitou o contexto da pandemia para criticar medidas de isolamento e autoridades vistos como adversários. A narrativa de “perseguição” ou “censura” começou a ser mais explorada, criando um senso de urgência e solidariedade com seu público.
Em 2021 e 2022, a transição de influenciador para parlamentar eleito (vereador e depois deputado) foi estrategicamente utilizada para legitimar e amplificar suas pautas no ambiente institucional. Os títulos passaram a destacar sua atuação direta em comissões e plenários, buscando demonstrar eficácia e combate ao “sistema”.
A forte agenda eleitoral de 2022 consolidou o deputado como uma voz da direita radical, com um foco na defesa de Bolsonaro e no ataque sistemático a figuras da oposição e da mídia. A intensificação de temas como a “ideologia de gênero” e o constante apelo à base cristã demonstram uma estratégia clara de engajamento emocional e ideológico para mobilizar eleitores e reforçar sua identidade de defensor dos valores conservadores.
2023 – 2025 (afirmação do papel de oposicionista e religioso)
Eleito deputado federal como parte da base de oposição ao governo Lula, a estratégia de Nikolas evolui para um protagonismo na fiscalização e crítica direta à nova administração, utilizando o púlpito do Congresso Nacional como palco principal.
Os títulos dos seus vídeos no canal do YouTube refletem um foco intenso nas ações do governo e de seus ministros, especialmente em comissões parlamentares de inquérito (CPMI), como a do 8 de janeiro. A estratégia de “exposição” e “enquadramento” de adversários é evidente, posicionando o parlamentar como um combatente das políticas e figuras do governo.
Em 2024 e 2025, a estratégia do deputado aponta para a consolidação de sua liderança na oposição e a preparação para futuros ciclos eleitorais, notadamente as eleições municipais de 2024 e o cenário de 2026.
Os títulos dos vídeos indicam um foco em mobilizar e treinar a base conservadora para a política local, enquanto o deputado mantém a narrativa de “perseguição” e “luta contra o sistema” através de séries como “Episódios de Presos” e de ataques a figuras do Judiciário e do governo, como no vídeo “Quem é a justiça brasileira?”.
Embora tenha se empenhado em criticar duramente o governo, Nikolas direciona os vídeos para pautas religiosas, Ele também explora temas polêmicos e crises políticas, demonstrando uma estratégia de engajamento contínuo de sua base ideológica conservadora.
Nessa fase, as palavras “oração” e “Brasil” são as mais mencionadas nos títulos. Elas aparecem associadas em convites como “21 dias de Jejum e oração pelo BRASIL” e “Dia 1/21 – Oração pelo Brasil”. A mistura entre religião e política aparece também em títulos como “O último vídeo – Deus abençoe o Brasil”, escolha que reflete uma busca permanente do deputado em se consolidar como figura política de oposição, conservador e fundamentalmente cristão.
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Fábio Vasconcellos
Doutor em Ciência Política pelo IESP (2013) e mestre em Comunicação Social pela UERJ (2008). Professor associado da Faculdade de Comunicação UERJ. Temas de interesse: Comportamento Eleitoral; Comunicação Política; Eleições; Opinião Pública; Analise de Dados.