Já se perguntou por que seus amigos com opiniões políticas diferentes assistem a canais de notícias completamente distintos dos seus?
A resposta está em um fenômeno conhecido como “exposição seletiva” aos meios de comunicação. O tema é debatido desde a década de 1960, mas ganhou novos contornos com um estudo publicado em 2008 por Natalie Jmini Stroud.
Stroud demonstrou que as crenças políticas dos indivíduos estão intrinsecamente ligadas aos seus padrões de consumo de mídia e que são justamente essas predisposições políticas que impulsionam nossas escolhas de informação.
Em outras palavras, não era apenas que conservadores republicanos tendiam a assistir à FOX News, e democratas liberais preferiam CNN/MSNBC. Stroud sugeriu que essa escolha era motivada por convicções pessoais.
A chave para essa dinâmica está na relevância pessoal de nossas crenças e nas respostas afetivas que elas provocam. Crenças profundamente ligadas aos nossos interesses ou à nossa identidade (como a afiliação partidária) são mais facilmente ativadas em nossa mente, guiando nossas escolhas de mídia.
Além disso, as pessoas ajustam sua exposição à informação política para manter um estado emocional desejado, buscando fontes que gerem afeto positivo e evitando aquelas que causam desconforto. Esse comportamento é mais significativo quanto mais a pessoa está engajada politicamente.
Ideologia, canais e meios de informação
Um estudo publicado este mês na revista Más Poder Local, e produzido por Rodrigo Carreiro, Maria Paula Almada, Nina Santos e mais quatro colegas, apresenta dados de uma pesquisa que examinou os hábitos de consumo de informação dos brasileiros, considerando, entre outras variáveis, a identificação ideológica.
Entre os meios tradicionais, como TV, rádio, revistas e jornais, podemos ver que a preferência pela TV cresce à medida que os brasileiros se apresentam como de centro. Em outras palavras, os extremos apresentam menos preferência pela TV como meio principal de informação.
Esse comportamento sugere uma questão a ser investigada. A maior preferência pela TV entre os brasileiros de centro pode estar associada a uma característica da cobertura da televisão aberta, que tende a mirar um público mais amplo, reduzindo a ênfase ou a coloração ideológica.
Quando analisamos os dados das mídias digitais, por outro lado, vemos que entre os brasileiros que se identificam como de extrema direita, cerca de 67% preferem redes sociais para se informar. O percentual cai à medida que avançamos em direção à extrema esquerda. Nesse grupo, apenas 35% dizem se informar por rede social. (Os dados somam mais de 100% porque os respondentes puderam apresentar mais de uma opção de mídia preferencial).
Canais preferidos por brasileiros à esquerda, direita e centro
O cruzamento entre perfil ideológico e sites preferidos para se informar confirma a hipótese de Stroud. Veículos como Band, Jovem Pan, R7, SBT e Record tendem a ter uma audiência mais posicionada à direita, enquanto Carta Capital, Uol e Revista Fórum são os preferidos entre aqueles que se identificam com o campo da esquerda. CNN e G1 apresentam uma distribuição mais equilibrada entre brasileiros que se identificam com o campo da esquerda e da direita.
Esses achados sugerem uma série de questões e implicações para uma democracia. A primeira delas é que a diversificação de fontes do ambiente digital reduziu o custo de encontrar fontes mais alinhadas com as nossas preferências políticas.
Não foi, contudo, apenas a diversificação em si, mas também escolhas editoriais e de mercado. Os canais também passaram a capturar audiências e a fidelizar a “clientela” oferecendo uma cobertura mais inclinada à direita ou à esquerda.
No seu estudo, Stroud observou que o consumo de mídias alinhadas pode levar o público a formar impressões diferentes sobre a realidade e a desenvolver atitudes políticas mais polarizadas. Isso dificultaria a construção de um consenso em questões de políticas públicas, minando a formação de uma base informacional comum entre os cidadãos.
Referências
Carreiro, Rodrigo; Almada, Maria Paula; Santos, Nina; Nóbrega, Lizete Barbosa da; Cerqueira, Ellen; Cruz, Matheus; Peron, Vivian (2025): «Desigualdades Informativas: Hábitos de consumo de informação pelos brasileiros e a influência dos fatores gênero, renda, idade, raça e posicionamento político». Revista Más Poder Local, 61: 90-110. DOI: 10.56151/maspoderlocal.284
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Fábio Vasconcellos
- Doutor em Ciência Política pelo IESP (2013) e mestre em Comunicação Social pela UERJ (2008). Professor associado da Faculdade de Comunicação UERJ. Temas de interesse: Comportamento Eleitoral; Comunicação Política; Eleições; Opinião Pública; Analise de Dados.