Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia | Representação e Legitimidade Democrática | ReDem

Crise e representação: Congresso ignora opinião dos brasileiros e pauta medidas impopulares

Para quem acompanha a chamada crise de representação que boa parte das democracias contemporâneas vive, a semana política no Brasil, iniciada nesta segunda-feira (15/05), dá pistas de como essas dinâmicas se desenvolvem.

Menos de uma semana após a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe, a Câmara dos Deputados voltou a discutir duas propostas com ampla rejeição entre os brasileiros, ao mesmo tempo em que deixou em segundo plano outra medida com amplo apoio popular.

A movimentação na agenda da Câmara acontece na mesma semana em que a Genial/Quaest divulgou dados de uma pesquisa mostrando que 52% dos brasileiros não confiam no Congresso Nacional. A taxa é a décima maior em uma lista de 13 instituições avaliadas. A maior desconfiança é em relação aos partidos políticos (63%).

Mas de onde vem tanto descrédito?

Parte disso se deve, muito provavelmente, à falta de sintonia entre a agenda da sociedade e a agenda parlamentar.

Nesta terça-feira (16/09), a Câmara aprovou o regime de urgência da chamada PEC da Blindagem. O texto é defendido por parlamentares de diferentes espectros na Casa, em especial os do Centrão.

Caso seja aprovada, a PEC devolve à Câmara a prerrogativa de autorizar ou não a abertura de processos criminais contra deputados e senadores. Essa regra valeu até 2001, quando o Congresso Nacional impediu a abertura de mais de 250 pedidos de processos contra deputados e senadores apresentados ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A PEC da Blindagem, contudo, é rejeitada pelos brasileiros. A pesquisa Genial/Quaest de agosto mostrou que 53% dos entrevistados são contra a medida; outros 31% se mostram favoráveis.

Em outra frente, os deputados voltaram a pressionar o presidente da Câmara, Hugo Motta (REP-PB), a votar a anistia ampla e irrestrita a todos os envolvidos na tentativa de golpe, como ex-presidente Bolsonaro. Motta deve decidir nesta quarta-feira (17/09) se vota a urgência do projeto.

Esta é outra medida que contraria a maioria dos brasileiros.

A pesquisa DataFolha realizada entre os dias 8 e 9 de setembro, após a condenação de Bolsonaro pelo STF, mostrou que 61% dos brasileiros eram contra a anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

Em outra pergunta, 54% dos brasileiros afirmaram ao DataFolha serem contra a anista ao ex-presidente Bolsonaro.

Já  a proposta do Governo de isentar do Imposto de Renda  quem ganha até R$ 5 mil é amplamente aprovada pelos brasileiros. Segundo o DataFolha, em uma pesquisa feita em abril, cerca de 70% se mostraram favoráveis à medida.

A proposta, que ficou parada meses na Câmara, sob a relatoria do deputado Arthur Lira (PP-AL), teve o regime de urgência aprovado no mês passado, mas perdeu fôlego diante da agenda da anistia e da PEC da Blindagem.

Siga @redem.inct no Instagram e @redem_inct no X para saber mais sobre os estudos realizados por nossos pesquisadores!

Fábio Vasconcellos

  • Doutor em Ciência Política pelo IESP (2013) e mestre em Comunicação Social pela UERJ (2008). Professor associado da Faculdade de Comunicação UERJ. Temas de interesse: Comportamento Eleitoral; Comunicação Política; Eleições; Opinião Pública; Analise de Dados.

Compartilhar esse conteúdo

Veja Também