A pesquisa Quaest/Genial divulgada na quarta-feira (11/12) mostrou estabilidade na avaliação do Governo, com 33% de avaliação positiva; 31% negativa e 34% regular. A pesquisa trouxe também dados sobre a percepção da população sobre a economia. Como isso pode mudar a avaliação do Governo?
Neste primeiro gráfico temos as curvas da expectativa para a economia nos próximos 12 meses e da percepção dos brasileiros sobre a economia nos últimos 12 meses. As curvas se aproximam, sugerindo que o aumento da percepção negativa, hoje majoritária, tem minado as expectativas futuras, embora ela ainda seja de 51%.
Este é um ponto de atenção para o Governo, porque exige não apenas ações de comunicação para levar o conhecimento da população as medidas que estão sendo tomadas ou mesmo para ampliar a divulgação de indicadores positivos da economia. Outros dados da Quaest mostram que será preciso aliar comunicação com ações que resolvam problemas que a população percebe negativamente no seu dia a dia, como a alta dos combustíveis, energia, alimentação e perda do poder de compra. É isso que podemos verificar no conjunto de dados que se segue.
Por exemplo. Este gráfico mostra um gap entre a percepção do aumento da conta de luz (muito maior) e a percepção da economia agregada. Ou seja, se considerarmos apenas a conta de luz como exercício, poderíamos dizer que há espaço para a percepção negativa da economia subir.
Com relação ao preço dos combustíveis, que a população considera que subiu, também há espaço no comparativo com a percepção da economia. Embora menor que o espaço da conta de luz, a percepção do preço dos combustíveis sugere que há margem para a insatisfação agregada subir.
Outro tema bastante sensível, a percepção de que o preço dos alimentos subiu está também bastante descolada da percepção negativa da economia.
A percepção do poder de compra é outro indicador que sugere um risco para o Governo. A maioria da população considera que hoje tem menos poder de compra que 12 meses atrás. Veja que há um grande espaço entre esse indicador e a percepção negativa da economia. É como se hoje a percepção geral da economia, amplamente negativa, ainda não refletisse os patamares de percepção negativa dos demais itens perguntados aos brasileiros pela Quaest.
Conta de luz, alimentos, combustíveis e poder de compra do dinheiro são atalhos cognitivos que o cidadão comum utiliza para avaliar o Governo. Por isso, chama tanto atenção estarem ainda bem descolados da percepção agregada da economia que é negativa.
Paradoxalmente, esse é o dado positivo para o Governo. Percepções da economia real parecem não ter contaminado diretamente a percepção negativa sobre a economia agregada. Isso sugere que há outros fatores considerados pela população nas suas avaliações.
Uma hipótese que talvez ajude a explicar a “resistência” da avaliação negativa da economia. Ela subiu desde o ano passado, mas talvez a esperança dos brasileiros de que as coisas vão melhor seja um fator que ainda ajude a frear o ritmo. Vamos lembrar que a economia está aquecida, com geração de emprego também em alta. Esses fatores podem ajudar a frear o pessimismo geral, mesmo o cidadão tendo um percepção de que, na economia real (combustíveis, alimentos, luz) as coisas estão mais difíceis.
Apesar desses descolamento entre a percepção geral da economia e a percepção sobre itens da economia real, o Governo precisa ficar atento. Como o gráfico abaixo mostra, há certa associação entre a avaliação negativa do Governo e a percepção negativa da economia. Ou seja, se os indicadores que vimos contaminarem a percepção geral da população, é provável que a avaliação do negativa do Governo também suba. É importante lembrar que o recente aumento da taxa de juros (Selic) tende a frear a aquecimento da economia.