A segunda metade do Governo do presidente Lula começou sob forte pressão. Erros na comunicação, pesquisas de opinião com viés de queda na aprovação e a inflação dos alimentos ilustram um quadro com muitos desafios no curto prazo. O governo é cobrado a apresentar resultados. No campo da oposição, a antecipação do debate sobre pré-candidaturas à Presidência sinaliza que é preciso correr para que as ações do governo surtam efeito até o fim deste ano ou no máximo no início de 2026.
Entre as mudanças previstas, o presidente Lula estuda uma reforma ministerial para ampliar a base parlamentar numa costura que envolve também as alianças para a próxima eleição presidencial. Para entender um pouco como essa reforma pode acontecer, analisei a taxa de governismo dos partidos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. A taxa mede o quanto os deputados de cada partido votam conforme a orientação da liderança do governo nas duas casas. Sempre que votam seguindo essa orientação, maior o governismo.
Hoje, dos 39 ministérios, o PT lidera com 13 pastas, seguido pelos ministros “sem partido” (8). Na sequência vem o MDB e PSD, com 3 ministérios cada um; seguidos por PDT, PSB e União Brasil com dois ministérios. Para a análise da taxa de governismo, considerei as votações dos deputados e senadores do MDB, PSD, União Brasil, PP e Republicanos.
Esses cinco partidos formam a base do chamado Centrão e podem tanto aderir a uma possível candidatura de reeleição de Lula, como migrar para a oposição. Não incluí o PL porque se trata de um partido de oposição. A questão a ser respondida é: como os partidos do Centrão, que ocupam pastas ministeriais, entregam votos para o governo?

A primeira análise considera os dados agregados da Câmara e do Senado desde o início do governo Lula III. Os resultados indicam que o governo teve uma queda de apoio no primeiro trimestre de 2023, depois recuperou parte desse apoio. Hoje a taxa média está acima dos 70% nas duas casas. O indicador, contudo, é levemente maior no Senado (74%) que na Câmara (72%). É importante observar que os primeiros dados do início da série representam poucas votações. A taxa tende a ficar mais consistente a partir do quarto trimestre de 2023, quando tivemos um maior acúmulo de votações.

Quando abrimos a taxa de governismo por partido, vemos que os deputados do PSD, MDB, PP e Republicanos apresentam taxas acima da média da Câmara dos Deputados. O União Brasil, que tem os ministérios das Comunicações e Turismo, registra taxas abaixo da média. Enquanto a taxa na Câmara é de cerca de 72%, o União marca 67%. A proporção de governismo do União passou a ficar abaixo da média a partir do segundo trimestre de 2023 e, desde então, se manteve assim.

No Senado, a bancada do PSD, MDB e União Brasil apresentam taxa de governismo acima da média. Na câmara alta, os problemas do governo são o PP e o Republicanos. Ambos registram taxas de governismo bem abaixo da média. O PP ocupa o ministério dos Esportes, e o Republicano, a pasta de Portos e Aeroportos. Enquanto a taxa de governismo média do Senado é de 74%, o PP registra apenas 58%, e o Republicanos, 50%. Esse comportamento ocorre desde o segundo trimestre de 2023.

Em resumo, o presidente Lula terá que costurar uma reforma ministerial para ampliar sua base nas duas casas, sem perder de vista o cenário de 2026. Para isso, poderá premiar os partidos que, na Câmara dos Deputados, têm se comprometido mais com as votações de interesse do governo, caso do PSD, MDB, PP e Republicanos. Nesse sentido, poderá abrir espaço nos ministérios hoje com ministros sem partido. Outra opção é punir os partidos com baixa taxa de governismo, caso do União Brasil, substituindo o ministro das Comunicações para abrir espaço para novos aliados. Essa última estratégia, contudo, é pouco provável. Lula parece preferir uma adesão parcial na Câmara e também no Senado do que abandonar partidos como PP, União Brasil e Republicanos no colo da oposição. A conferir.