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As duas faces da nova direita brasileira: antipolítica e reação conservadora

Autor: André Borges

Analisando a reorganização da direita brasileira em reação aos governos do PT, o artigo de André Borges argumenta que ela se manifesta em duas “faces” distintas. A primeira é a nova direita evangélica, que se diferencia por seu ultraconservadorismo em pautas morais. A segunda é a direita antipolítica (ex: Novo, PSL), que se define por seu caráter anti-establishment. O estudo utiliza dados de surveys com deputados e análise de programas partidários para confirmar essa distinção. A pesquisa conclui que, ao contrário da direita tradicional, a nova direita se consolidou em torno de novos eixos de conflito (moral e anti-establishment), mas compartilha com a antiga uma notável fragilidade institucional partidária.

O Desafio Investigado: O artigo busca compreender a reorganização da direita brasileira que ocorreu em reação aos governos do Partido dos Trabalhadores (PT) entre 2003 e 2016. O desafio é entender como as novas forças de direita se diferenciam da direita tradicional e entre si, mapeando as características que definem esse novo campo conservador que ascendeu no país.

A Proposta Central: A pesquisa argumenta que a “nova direita” brasileira é composta por duas vertentes distintas. A primeira é a nova direita evangélica, que surgiu como uma reação a mudanças progressistas e se distingue por suas posições ultraconservadoras em pautas morais. A segunda é a direita antipolítica, que emergiu de movimentos liberais e anticorrupção (2014-2018) e se diferencia pelo seu perfil anti-establishment. O estudo testa essas hipóteses usando análise de programas partidários e dados de um survey com deputados federais de 2019.

Evidências e Argumentos: A análise confirma as hipóteses. Dados do survey com parlamentares (PELA 2019) mostram que deputados evangélicos de direita são, na média, significativamente mais conservadores em temas morais do que os demais deputados de direita. A análise dos programas partidários de 2018 revela que a dimensão “anti-establishment” é muito mais saliente nos programas de partidos como Novo, PSL e Podemos. Por fim, os dados indicam que a pauta econômica liberal não é um claro diferenciador, pois a direita antipolítica não se mostrou significativamente mais liberal na economia do que a direita tradicional.

Implicações e Contribuições: A principal contribuição do estudo é demonstrar que a direita brasileira hoje é substancialmente diferente daquela dos anos 1990 e 2000. A “velha direita” (ex-PFL/DEM) era secular e clientelista, enquanto a “nova direita” se consolidou a partir de novas linhas de conflito: a politização de pautas morais e religiosas e o surgimento de um forte sentimento anti-establishment. O estudo conclui que, apesar de bem-sucedida em mobilizar a sociedade, a nova direita compartilha uma fragilidade institucional com a antiga, como visto na divisão e declínio de partidos como o Novo e a extinção do PSL.

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Autores:

André Borges é Doutor pela Universidade de Oxford. Professor associado da Universidade de Brasília (UnB). Interessado nos temas instituições políticas, partidos políticos e comportamento eleitoral, poder Executivo e burocracia no Brasil e em perspectiva comparada.