Com base em uma pesquisa de opinião realizada em fevereiro de 2025 com 1.504 pessoas, o texto de Adriano Codato e Felipe Calabrez, no jornal O Globo, analisa o entendimento paradoxal que os brasileiros têm da democracia. O estudo identifica um “autoritarismo situacional”, onde há uma disposição de flexibilizar regras democráticas para favorecer o lado político preferido. Contrariando as expectativas, a pesquisa revelou que, conjunturalmente, eleitores de Lula mostram maior apoio à concentração de poder presidencial do que eleitores de Bolsonaro. A conclusão é que o desafio à democracia não vem apenas do extremismo, mas de uma tendência social ampla de adaptar a visão sobre o regime conforme quem está no poder, sugerindo que a polarização do país pode ser menos profunda culturalmente do que aparenta.
O Desafio Investigado: O artigo investiga as contradições na forma como os brasileiros entendem a democracia. A pesquisa, realizada em fevereiro de 2025 com 1.504 pessoas pelo INCT-ReDem da UFPR, buscou compreender como a opinião pública lida com os princípios e a prática democrática, desafiando expectativas sobre a polarização política no país.
A Proposta Central: A análise argumenta que os brasileiros demonstram um entendimento paradoxal da democracia, operando com “dois manuais democráticos diferentes, dependendo do contexto”. O estudo identifica um fenômeno que chama de “autoritarismo situacional”: uma disposição generalizada de flexibilizar regras democráticas para favorecer preferências políticas imediatas, independentemente do espectro ideológico.
Evidências e Argumentos: A pesquisa revelou que, embora 83% dos entrevistados considerem “muito importante” proteger direitos de minorias, 52% também acham que a maioria pode restringir esses direitos. Um achado inesperado foi que, conjunturalmente, eleitores de Lula demonstram maior disposição para apoiar a concentração de poder no presidente do que eleitores de Bolsonaro, seja ignorando decisões judiciais (49% vs. 42%) ou o Congresso (56% vs. 46%).
Implicações e Contribuições: A principal contribuição do estudo é mostrar que o desafio à democracia no Brasil não reside apenas no extremismo, mas em uma tendência social generalizada de relativizar princípios conforme quem ocupa o poder. A pesquisa sugere que a polarização brasileira pode ser eleitoralmente intensa, mas culturalmente menos profunda, já que ambos os grupos eleitorais compartilham visões sobre o poder da maioria, indicando elementos comuns na cultura política do país.
*Foto: Arte/ O Globo
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