Analisando como as atitudes democráticas dos brasileiros se relacionam com o contexto político-econômico da última década, o artigo de Carlin, Fuks e Ribeiro utiliza dados do AmericasBarometer (2012-2019) e uma análise de cluster para identificar diferentes perfis de cidadãos. A pesquisa sugere que não há uma única explicação para a variação no apoio à democracia. Em períodos de crise ou bonança econômica, a teoria do desempenho instrumental parece mais válida. Já durante a recente era de retrocesso democrático, as evidências são mais compatíveis com os modelos de “consentimento dos vencedores” (apoiadores tolerando a erosão democrática) e de “reação termostática” (reação do público contra os ataques à democracia). A principal conclusão, embora provisória, é que o motor do apoio democrático no Brasil muda conforme o contexto, ora sendo guiado pela economia, ora pela polarização e pelas respostas institucionais.
O Desafio Investigado: O artigo busca responder como as atitudes democráticas dos brasileiros se relacionam com as mudanças no contexto político e econômico do país. A pesquisa analisa uma década de dados para avaliar qual das principais teorias sobre apoio democrático — instrumentalismo, consentimento dos vencedores ou dinâmica termostática — melhor explica a opinião pública brasileira em diferentes momentos.
A Proposta Central: Este estudo exploratório utiliza dados do AmericasBarometer de 2012 a 2019 para mapear a evolução do apoio à democracia liberal no Brasil. Empregando uma análise de cluster, a pesquisa identifica diferentes perfis de cidadãos (Institucionalistas, Intervencionistas Militares, Presidencialistas e Autoritários) para entender de forma mais nuançada as dinâmicas de apoio.
Evidências e Argumentos (Achados da Análise): A análise é dividida em três períodos:
Boomtimes (pré-2013): Neste período de bom desempenho econômico, o apoio à democracia era alto e homogêneo, com 87,5% da população classificada como “Institucionalista”, o que é consistente com a teoria instrumental baseada no desempenho.
Perfect Storm (2013-2018): Durante a crise econômica e política, a explicação se torna mais complexa. A queda inicial no apoio alinha-se à teoria do desempenho , mas a recuperação posterior do apoio institucionalista, mesmo com a economia em crise, sugere a validade de modelos como o “consentimento dos vencedores” e, principalmente, o “termostático” (uma reação ao início da erosão democrática).
Democratic Backsliding (pós-2018): No governo Bolsonaro, a teoria do desempenho se mostra insuficiente. As evidências são mais compatíveis com o modelo de “consentimento dos vencedores” (apoiadores do incumbente tolerando a erosão de direitos) e com a dinâmica “termostática” (uma reação contrária da sociedade aos ataques à democracia).
Implicações e Contribuições: A principal contribuição do artigo é mostrar que nenhuma teoria isolada explica completamente as dinâmicas do apoio democrático no Brasil. O modelo mais adequado parece depender do contexto: em períodos de estabilidade ou crise econômica, a percepção de desempenho é mais relevante; já em momentos de ameaça institucional, a polarização e a reação pública ganham mais força explicativa. Os autores ressaltam que as conclusões são exploratórias e provisórias, necessitando de mais dados para testes rigorosos.
Siga @redem.inct no Instagram e @redem_inct no X para saber mais sobre os estudos realizados por nossos pesquisadores!

Autores:
Ryan E. Carlin é Professor de Ciência Política na Universidade Estadual da Geórgia. É doutor pela Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill e pesquisador afiliado do Projeto de Opinião Pública da América Latina na Universidade de Vanderbilt.
Mario Fuks é doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário do Rio de Janeiro (IUPERJ) e professor titular do departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
Ednaldo Ribeiro é Doutor em Sociologia pela UFPR. Professor de Ciência Política na UEM e na UFPR. Bolsista produtividade do CNPq na área de comportamento político. Interessado nos temas atitudes democráticas e ativismo político.