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Como e por que a comunicação é um problema para o governo Lula 3

Mudanças no ecossistema comunicacional tornaram o trabalho do Executivo muito mais complexo e difícil Escrito por: Fábio Vasconcellos
Diante da queda nos índices de aprovação, o governo Lula 3 aponta para um “problema de comunicação”. Mas seria apenas uma questão de estratégia, ou o próprio ambiente onde a informação circula mudou radicalmente?

Analisando a queda na aprovação do governo Lula 3 e sua própria justificativa de um “problema de comunicação”, o texto de Fabio Vasconcellos investiga como as mudanças no ecossistema de mídia tornaram a comunicação governamental mais complexa. Com base em dados de pesquisas Quaest, a análise demonstra que o ambiente digital e as redes sociais, ao contrário da TV, são predominantemente hostis ao governo. Apesar de haver uma forte correlação positiva (0,97) entre o conhecimento das políticas e sua aprovação, o nível de conhecimento sobre elas é baixo (41%). A conclusão é que o problema de comunicação é estrutural, não apenas de estratégia; o atual ambiente midiático, fragmentado e ruidoso, dificulta a divulgação de acertos e potencializa a circulação de erros, sugerindo um cenário desafiador para a aprovação de qualquer governo.

Detalhamento da Pesquisa:

O Desafio Investigado: O texto investiga as causas para a deterioração da aprovação do governo Lula 3. Enquanto crises pontuais e fatores econômicos são mencionados, a análise se concentra na hipótese levantada pelo próprio governo: a de que existiria um “problema de comunicação”, onde as políticas são boas, mas não chegam de forma positiva à população. O desafio é entender se essa hipótese é válida e quais são suas verdadeiras raízes.

A Proposta Central: A análise argumenta que o problema não reside apenas em erros da estratégia de comunicação do governo, mas em uma mudança estrutural do “ecossistema de comunicação”. A proposta é comparar o ambiente de mídia dos dois primeiros mandatos de Lula, orientado pela mídia tradicional (broadcasting) e com poucos ruídos, com o cenário atual, que é fragmentado, dinâmico e dominado por redes sociais (Facebook, Instagram, TikTok, WhatsApp) que surgiram ou se popularizaram após 2010.

Evidências e Argumentos: Com base em dados de pesquisas do instituto Quaest, o texto apresenta as seguintes evidências:

  • O ambiente digital tende a ser mais hostil ao governo; notícias negativas sobre a gestão são predominantes nas redes sociais (60%) e em sites/blogs (59%), um percentual muito superior ao da TV (41%).
  • Cidadãos que se informam pela TV tendem a ver mais notícias positivas sobre o governo (31%) do que aqueles que preferem as redes sociais (onde esse percentual cai pela metade).
  • Existe uma forte correlação positiva (0,97) entre o conhecimento que o cidadão tem sobre uma política do governo e a sua chance de avaliá-la positivamente.
  • No entanto, o nível de conhecimento médio sobre as 13 principais ações do governo é baixo, de apenas 41%.

Implicações e Contribuições: A principal conclusão é que a hipótese do “problema de comunicação” não pode ser descartada, mas sua causa é estrutural e muito mais complexa do que uma simples falha de estratégia. O novo ecossistema digital, com sua pulverização de fontes e excesso de ruídos, cria mais barreiras para a divulgação de ações positivas do governo, enquanto facilita a circulação de erros e narrativas negativas. A análise sugere que podemos estar entrando em uma era onde a avaliação positiva de qualquer governo será mais frágil (“sobre uma fina camada de gelo”), enquanto a avaliação negativa se beneficiará do fluxo e da velocidade das redes.

*Foto: EFE/Andre Borges

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Autor

Fábio Vasconcellos – Doutor em Ciência Política pelo IESP (2013) e mestre em Comunicação Social pela UERJ (2008). Professor associado da Faculdade de Comunicação UERJ. Temas de interesse: Comportamento Eleitoral; Comunicação Política; Eleições; Opinião Pública; Analise de Dados.
 

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