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Em sete gráficos, veja como a Federação União-PP influencia o tabuleiro de 2026

O anúncio da mais nova federação partidária formada pelo União Brasil e o PP, duas das maiores bancadas do Congresso, contraria um comportamento até então esperado para legendas que enfrentam dificuldades para cumprir a cláusula de desempenho, criada pela reforma de 2017.  

Em 2022, por exemplo, o União elegeu 59 deputados, enquanto o PP, 47. Com isso, os dois partidos tornaram-se a terceira e a quarta maiores bancadas da Câmara. Aparentemente, portanto, nada indica que os dois partidos enfrentem qualquer risco de não cumprir a cláusula em 2026.  

O que explicaria a decisão por uma federação? 

Desde a criação da cláusula e a proibição das coligações para cargos proporcionais, os partidos passaram a fazer arranjos e montar estratégias para sobreviverem a cada ciclo eleitoral. Pelas regras, aqueles que não atingem a cláusula ficam sem acesso ao fundo partidário e à propaganda partidária na TV e no Rádio.  

Em 2018, já com a cláusula de desempenho, 14 partidos não atingiram 1,5% dos votos válidos e, com isso, perderam acesso ao fundo e à TV e ao Rádio. Em 2022, quando o corte subiu para 2% dos votos válidos, 16 legendas também não cumpriram a cláusula. Em 2026, a barreira vai subir para 2,5% dos votos válidos e, em 2030, chegará a 3%. 

Embora com um cláusula mais alta no próximo ano, a capilaridade e o desempenho eleitoral do PP e União Brasil sugerem que elas enfrentariam baixo risco de perderem acesso ao fundo ou ao tempo de televisão ou rádio.

A hipótese mais provável para a criação da nova federação, portanto, seria a de estabelecer condições ainda mais vantajosas de barganha eleitoral em 2026. Isso porque, no momento em que oficializarem a federação, os dois partidos terão que caminhar juntos entre 2026 e 2030, ou seja, há custos nesse processo. Uma segunda hipótese é que a federação pode ser um ensaio para uma possível fusão entre as duas legendas mais à frente.     

Mas qual o tamanho da barganha da Federação União-PP? 

Reuni alguns dados para tentar dimensionar a força política da Federação União-PP. Para isso, considerei a fusão entre PSDB e Podemos, além da Federação PT/PCdoB/PV; PSOL/Rede e os partidos MDB, PSD e PL, três importantes partidos do Congresso Nacional. Juntas, as legendas e federações consideradas neste levantamento representam 79% da Câmara Federal. 

Na análise, foram considerados o tamanho das bancadas na Câmara e no Senado, número de filiados, prefeitos, vereadores, governadores, deputados estaduais e proporção do Fundo Eleitoral. 

Confirmada a mais nova federação, União-PP passa a ter a maior bancada na Câmara dos Deputados com 109, superando o PL (90) e a Federação PT/PCdoB/PV (79).  

Mais do que superar o partido liderado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, a federação União-PP terá mais que o dobro de deputados do PSD (45), partido de Gilberto Kassab, hoje considerado um dos principais articulares políticos para 2026. 

No Senado, a distribuição é mais equilibrada. União-PP também passa a ter a maior bancada (14 senadores), porém, vai dividir espaço com PL e PSD, ambos também com 14 senadores.

Em número de lideranças estaduais, a Federação União-PP terá seis governadores, superando a Federação PT/PCdoB/PV, com 4. PSDB-Podemos, que estão em processo de fusão, tem três governadores, considerando o resultado de 2022. Hoje, por exemplo, o governador do Rio Grande do Sul, deixou o PSDB e se filiou ao PSD. Com isso, o PSD terá três governadores, mesmo número do MDB. O PL tem dois.

A Federação União-PP terá ainda182 deputados estaduais (considerando os eleitos em 2022), seguida por PT/PCdoB/PV, com 152 e o PL, com 124. 

Com a nova federação, União e PP terão o maior número de prefeitos (segundo a eleição de 2024). São 1.326, cerca de 25% das cidades. Quando consideramos a proporção da população governada pelos partidos, vemos que há pouca mudança. A Federação União-PP governará cidades com 19,9% da população, seguida pelo PSD e MDB, ambos com 18%.  

 Em número de vereadores, a Federação União-PP também lidera no comparativo com as demais federações e fusões. São mais de 12 mil vereadores eleitos pelo União-PP em 2024, contra 8 mil do MDB e 6,5 mil do PSD. 

Outro dado favorável para o União-PP é o total de filiados. Juntas as duas legendas somam 2,4 milhões, contra 2,1 milhões do PSDB-Podemos. A Federação PT/PCdoB/PV e o MDB empatam com 2 milhões cada um. 

Talvez o dado mais importante até aqui seja o acesso ao Fundo Eleitoral. Com a distribuição realizada em 2024 pelo TSE, a Federação União-PP terá acesso a cerca de R$ 953 milhões (19%), seguida pelo PL, com R$ 886 milhões (17,9%). A Federação PT/PCdoB/PV receberá R$ 721 milhões do fundo (14,5%). 

  

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Fábio Vasconcellos

Doutor em Ciência Política pelo IESP (2013) e mestre em Comunicação Social pela UERJ (2008). Professor associado da Faculdade de Comunicação UERJ. Temas de interesse: Comportamento Eleitoral; Comunicação Política; Eleições; Opinião Pública; Analise de Dados.

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